segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Quebrar regras? Para quê?

Hoje encontrei um texto que decidi partilhar com vocês..


Vivemos num tempo em que quebrar regras tem estilo, qual turma em que os rebeldes fazem sucesso, a nossa geração ri-se com o Dr. House e tem como herói o Batman.

Os tempos são de contestação, achamos que há normas a mais, que entram na nossa vida e nos tiram a “liberdade”: não fumamos, não aceleramos, não dizemos o que queremos, quando queremos.

Devo estar a exagerar, mas acredito mesmo que este é um dos vícios dos nossos dias, sintoma de uma visão sobre o mundo que só revela um mal maior nas nossas comunidades e grupos.

Ainda antes de pensarmos o porquê da regra, da proibição ou da imposição, já duvidámos do legislador, do “governo” ou do chefe. Esquecemos que, a maior parte das vezes, se demorou e se pensou até se escolher aquela solução e que, geralmente, faz sentido e é para a nossa protecção, para defender um bem que a razão da regra acredita ter valor.

Sem darmos esse tempo, esse “benefício da dúvida”, essa confiança de obediência, já encontramos excepções à regra, motivações e vontades, quando não são desculpas porque nem passou pela cabeça cumprir.

Esta lógica de desvalorização das normas, de rebeldia, condiciona-nos das nossas casas aos nossos trabalhos. Os filhos vêem os pais ultrapassar vermelhos e encontram legitimidade para quebrar o que esses pais imponham. Crescemos a encontrar razões, a justificar, muitas vezes até com toda a pertinência, mas a verdade é que somos prevaricadores crónicos. Nem que seja às escondidas.

Acredito que muito disto se deve às emoções que tantas vezes nos dominam e toldam os juízos: a “minha” pressa ao volante vale mais que a regra do excesso de velocidade – afinal corro para estar com quem precisa de mim – a “nossa” tradição é mais importante que as seguranças e as higienes “que vêm lá da Europa”… a “minha” justificação é razão para voar nas estradas, questionar as autoridades, defender os “meus ideais”.
Crescemos justiceiros e sobrevalorizamos as nossas posições e opiniões. Ficamos no demo (diabo!) da democracia, a visão que tem tudo menos a humildade da igualdade: dizemos “sou igual a ti!”, numa perspectiva muito mais de igualação forçada – repare-se que revela normalmente inferioridade que não se quer assumir, um esforço em tudo diferente do reconhecer no outro um igual, promovendo-o. Contrário a aceitar que há alguns que, por dedicação, esforço ou natureza, chegaram a um lugar e a uma norma que fará algum sentido. A incerteza sobre quem nos conduz paralisa, desresponsabiliza e desvirtua as hierarquias.
Esta urgência das nossas opiniões e necessidades, esta sobrevalorização e uma dúvida constante sobre quem nos guia e orienta pode ser um perigo, enfraquecem-se as prioridades, passa a banal violar regras, e deixamos de ter verdadeiros princípios ou limites à acção e à reacção. Importa conhecer o nosso bem maior, o nosso reduto de inviolável, e não o aumentar ao exagero – ao “meu bem maior”.

A justificação por um maior bem, por um ideal, é do mais perigoso no pensamento humano (as maiores atrocidades cometeram-se com este slogan), mas não deixa de ser necessário viver buscando-o e defendendo-o, no encontro e equilíbrio que o confronto com o outro, com o “mundo à nossa volta”, permite. Conhecer as razões que nos levam a quebrar regras diz mais sobre nós do que muitas vezes pensamos.

É certo que nada disto é apelo a obediência cega ou confiança tonta. Impõe-se defender aquilo em que acreditamos, questionar os porquês e optar. Grandes santos foram condenados em tribunal (depois das conversões!), grandes heróis foram prisioneiros, grandes rebeldes mudaram o mundo. Todos eles terão cumprido o essencial.

Cumprir e quebrar normas terá, assim, menos a ver com a liberdade que nos é oferecida pelo mundo e mais a ver com a liberdade em que optamos viver. Sou livre e cumpro. Sou livre e aceito as consequências do que quebro. Não o faço por “ter pinta”, por não pensar nisso, ou por desconfiança impensada.

Dizia-me um amigo que vale a pena violar as regras, mas que só vale a pena fazê-lo por razões maiores do que as das próprias regras, sujeitas também elas à crítica, à ciência, ao amor, a um contrato mais profundo e ainda mais existencial. Não vale a pena violar por violar, mas sim violar para as afastar e tentar encontrar melhores...

Quais são as regras para o novo ano lectivo?
Quais, e por quê, estou disposto a quebrar?

Miguel da Câmara Machado

8 comentários:

Marco Jacinto disse...

Quais regras, cada vez mais acho que o mundo não tem regras, mas se niguem as cumprir para que servem?????

Ritinh@ disse...

Marco,
Se tu as cumprires, se as achares moralmente correctas, e estiveres disposto a enfrentar até olhares de rejeição por parte dos outros... se estiveres disposto a lutar pelos teus ideais, por aquilo em que acreditas, as regras servem de muito..!

Anônimo disse...

Não é importante quebrar regras...
O importante é ter a coragem de seguir as regras do AMOR!
"Deus é Amor..."
(1Jo 4)
No início de um novo ano lectivo é importante seguir as regras do AMOR!
Ana Cristina

Anônimo disse...

Não é importante quebrar regras...
O importante é ter a coragem de seguir as regras do AMOR!
"Deus é Amor..."
(1Jo 4)
No início de um novo ano lectivo é importante seguir as regras do AMOR!
Ana Cristina

Ritinh@ disse...

Querida Irmã Cristina..

Claro que o importante não é quebrar regras, mas algumas vezes, para seguir as regras do AMOR, têm de se quebrar outras pequenas regras, (ou normas, se lhes quisermos chamar assim!)...

Esse é um dos meus objectivos neste ano lectivo..
Ter a coragem de Lhe confiar as minhas regras, as nossas regras...

dream* disse...

è como eu digo... Hoje em dia tudo está banalizado... Tudo, ou quase tudo é considerado "normal". E o que é normal é considerado "anormal". As pessoas estão acomodadas nas suas vidas e não buscam mais nada. Acho que o que é preciso é não nos deixarmos acomodar, e lutar por aquilo em que acreditamos, e, como disse a irmã Cristina, seguir as regras do Amor! ;)
Beijinhos!*

Ritinh@ disse...

Oi Dream :)
Ainda estás de férias, não é verdade?! Nota-se! Eheh*

Graças a Deus nem tudo está banalizado... no meio daqueles que sobrevivem, ainda há muitos que VIVEM :)

Porém, penso que o problema não é tudo ser considerado "normal".. às vezes gostaria de inverter os sentidos.. colocar as pessoas a ver o que é normal como anormal, e o contrário! Penso que seria um jogo interessante, muito interessante!
:D Talvez me passassem a ver como alguém "mais normal" :)

E claro que a Irmã Cristina disse tudo.. TUDO! Apenas disse aquilo que fez e faz todos os dias.. seguir essas regras.. do AMOR!
Beijinho***

O Ordinário disse...

Foi isso que eu disse ao juiz mas ele não quis crer